Petróleo desaba 30%, maior queda desde a Guerra do Golfo, com guerra de preço entre Arábia Saudita e Rússia

O preço do petróleo desabou mais de 30% nos primeiros segundos da abertura do mercado asiático neste domingo (segunda-feira na Ásia), num tombo que só fica atrás daquele registrado durante a Guerra do Golfo, em 1991, e afeta em cheio o Brasil.

A queda é consequência do aumento da tensão entre os países membros da Organização dos Países Exportadores do Petróleo (Opep), capitaneados pela Arábia Saudita, e a Rússia, que não chegaram a um acordo para diminuir a produção.

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Um acerto vinha sendo costurado há semanas, pois a demanda pelo petróleo despencou com o menor apetite chinês. A China, afetada pelo coronavírus, é o maior importador global da matéria-prima.

Os contratos futuros do petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, chegaram a ser negociados com o barril cotado a US$ 31,02, segundo a Bloomberg. Pouco após a abertura, a perda já havia sido reduzida para queda de cerca de 20%. O Goldman Sachs alertou que o preço pode chegar perto de US$ 20 por barril. Na sexta-feira, a cotação estava na faixa dos US$ 45.

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Bolsas asiáticas, como a japonesa, recuavam mais de 3% por volta das 22h30, após a queda no preço da commodity. E o mercado futuro americano despencava, com o S&P recuando 5% e o Dow Jones, 4%, prenunciando um dia complicado para as Bolsas globais nesta segunda-feira.

A Arábia Saudita, maior produtora mundial de petróleo, decidiu elevar sua produção e cortar os preços dos barris produzidos em seu território, dando início a uma “guerra de preço” com a Rússia, país que está entre os maiores produtores do combustível mas não é membro da Opep. Rússia e o cartel do petróleo mantêm uma cooperação desde 2016.

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Em resposta, o governo russo autorizou suas petroleiras a produzirem o quanto puderem. Para Masayuki Kichikawa, da Sumitomo Mitsui Asset Management, de Tóquio, a decisão da Arábia Saudita pode ser uma estratégia:

— Não acho que o objetivo final dos sauditas seja o colapso do mercado de petróleo. Parece mais ser uma tática para forçar a Rússia a voltar para a mesa de negociação.

Petrobras e arrecadação federal
Diante das decisões tomadas pelas duas potências petrolíferas, o setor teme um excesso de oferta do produto, o que terá impacto em toda a indústria de energia, desde gigantes como a americana Exxon Mobil e a brasileira Petrobras a pequenos produtores de petróleo.

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A queda do petróleo também poderá ter efeito sobre a arrecadação do governo brasileiro, já que os royalties pagos pelas petrolíferas têm por base a valor do barril.

Pode haver ainda um revés no combate às mudanças climáticas com os combustíveis fósseis se tornando mais competitivos que opções de fontes renováveis, como o etanol.

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De acordo com a Reuters, a Arábia Saudita planeja aumentar a produção de petróleo acima de 10 milhões de barris por dia a partir de abril, podendo chegar a 12 milhões, pois o atual acordo para restringir a produção entre Opep e Rússia (conhecido como OPEP +) expira em março.

— O medo é que esses dois países comecem a extrair muito petróleo, fazendo o preço desmoronar — indica Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset.

Ação da Aramco despenca
Andy Lipow, presidente da consultoria americana Lipow Oil Associates, diz que a medida pegou todos “de surpresa":

— A Opec+ surpreendeu ao iniciar uma guerra de preços para ganhar participação de mercado.

A bolsa saudita, já afetada pelo coronavírus, caía 6,5% na abertura, e também despencavam as bolsas de Dubai (- 8,5%), assim como as de Kuwait e Abu Dabi, ambas com quedas de mais de 7%.

As ações da petroleira nacional saudita Aramco caíram pela primeira vez abaixo de seu preço de partida na Bolsa, 32 rials (US$ 8,50) e ficaram em 31,15 rials.

 

Fonte - O Globo